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domingo, 29 de julho de 2012

Atuação continuada em disfagia como linha de atuação em crianças com paralisia cerebral

O processo de reabilitação da disfagia orofaríngea em crianças com paralisia cerebral vem sofrendo alterações no decorrer dos anos. Pesquisas têm mostrado, por exemplo, que a técnica sensório-motora orofacial utilizada nessas crianças não se mostrou eficaz quando utilizada deforma isolada, o uso do bolo alimentar azedo não elimina a aspiração por completo. Entretanto, modificações e adequações posturais e a participação dos pais e cuidadores na terapia, para compreender o processo de deglutição e as possíveis abordagens terapêuticas a serem elencadas para uma deglutição mais segura da criança, são procedimentos imprescindíveis para a eficácia do tratamento fonoaudiológico.
    
A modificação da dieta de um bebê é um processo delicado, que vai de encontro à singularidade dos participantes desse processo, ou seja, o indivíduo e sua família. Num momento em que a mãe passa pelo trabalho do luto, perda da criança ideal e compreensão da deficiência instalada, a intromissão da equipe terapêutica nas modificações posturais e alimentares, nas atividades da vida diária, entre outros, deve ser muito bem pensada, para não tirar da família o papel de conhecedora de seu filho. Nesse repensar, o que fica em evidência é a possibilidade de os pais poderem ocupar outro espaço no processo terapêutico, usando seus próprios recursos e conhecimentos para a eliminação do sintoma da criança.
    
A proposta da educação continuada em disfagia para pais e cuidadores engloba cinco encontros: no primeiro é definida a disfagia orofaríngea e explicados seus sinais e sintomas; em seguida é realizada uma vivência alimentar com os pais e cuidadores, com diferentes consistências e temperaturas, posturas e utensílios. No segundo encontro são demonstrados posicionamentos mais adequados e inibição de reflexos patológicos durante a alimentação, bem como o uso de consistências e utensílios mais adaptados ao quadro de cada criança. No terceiro encontro é realizada uma entrevista que busca compreender quais orientações foram construídas junto com os pais e cuidadores, elucidando as principais dificuldades na compreensão das orientações. O penúltimo encontro consiste na observação informal do processo de alimentação das crianças, visando avaliar se as orientações foram também incorporadas no dia a dia da criança. Quando se percebe que o processo de alimentação ainda não está de acordo com o necessidade da criança, é realizada uma segunda entrevista - último encontro - a fim de se identificar a dificuldade na incorporação das orientações.
    
A análise das entrevistas tem por finalidade compreender onde estão as maiores dificuldades de comunicação entre terapeuta e pais (e cuidadores) no processo de reabilitação da disfagia orofaríngea de crianças com paralisia cerebral. A partir desse conhecimento, procura-se revisitar o papel do fonoaudiólogo, distanciando-o da condição de único conhecedor dos sintomas desencadeados pela criança, e passando a dividir o saber com pais, com base nos princípios de troca de experiências, compreensão mútua, respeito e confiança.
 
Fonte: HIRATA, G.C Revista Comunicar - Ano XIII, núm. 53, abril-junho de 2012.

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