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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Fonoaudiologia e ortognática: evitando as recidivas

Por Sabrina Leão
 
As deformidades craniofaciais orais ocasionam alterações miofuncionais orais, tais como: postura inadequada de lábios e língua, assimetrias musculares, disfunção temporomandibular e comprometimento das funções de mastigação, deglutição, fala e respiração.

As alterações miofuncionais orais, comprometem o funcionamento adequado do sistema estomatognático, pois, na presença de tais alterações, as estruturas orofaciais geram sobrecarga funcional e alterações no funcionamento da articulação temporomandibular.

A cirurgia ortognática, visa o tratamento das deformidades orofaciais, pois, busca restaurar a função, primando pela estética. Através da cirurgia, reposicionam-se as bases ósseas, modificando o posicionamento também das estruturas moles, o que resulta em novas respostas adaptativas, em sua maioria, benéficas. Porém, nem sempre essa modificação muscular ocorre da maneira esperada, ocasionando dificuldades  na mastigação e na deglutição.

Com a cirurgia, ocorrem modificações estruturais e oclusais, sendo assim, a fonoaudiologia atua na readequação funcional do sistema estomatognático, contribuindo para a diminuição de recidivas provocadas pelo surgimento de padrões adaptativos inadequados.

A intervenção fonoaudiológica pode e deve ser iniciada ainda na fase pré-operatória. Segundo Aléssio, Mezzomo e Korbes (2007), a fonoterapia no período pré-cirúrgico tem como objetivos: eliminação das alterações musculares; correção do padrão respiratório e fonatório; tratamento da disfunção temporomandibular; eliminação de hábitos orais deletérios; correção das posturas orofacial e cervical; encaminhamento a profissionais especializados, quando necessário.

A fonoterapia no pós-cirúrgico divide-se em duas etapas: o pós-operatório imediato e a terapia propriamente dita. O pós-operatório imediato corresponde ao período de bloqueio maxilomandibular. Nesse momento, o fonoaudiólogo atua orientando quanto à alimentação, adequando a sensibilidade para melhorar a propriocepção e inicia a adequação postural de lábios e língua.

Após o período de bloqueio, a terapia propriamente dita pode ser iniciada. Seu objetivo é adequar os distúrbios posturais, musculares e funcionais. A partir daí, é iniciada a reintrodução gradual do alimento sólido e a prática de exercícios para a recuperação da abertura da boca.

O paciente somente recebe alta quando alcança a automatização das posturas dos órgãos fonoarticulatórios e das funções estomatognáticas, quando obtiver normalização de abertura bucal e adequação da fala. Alcançados esses objetivos, o paciente comparece à terapia em sessões espaçadas para controle, a fim de evitar recidivas.

A fixação interna rígida ajuda a reduzir o tempo de bloqueio maxilomandibular das cirurgias atuais. Como o tempo é reduzido, não há tempo suficiente para uma “desprogramação” da memória neuromuscular. Por isso, mesmo a cirurgia sendo bem sucedida, as chances de uma recidiva são muito maiores em decorrência desse tempo reduzido de bloqueio, resultando em falta de adaptação oromiofuncional à nova configuração intra-oral. Esse fato reforça a importância da atuação fonoaudiológica nos casos de cirurgia ortognática.
 
Bibliografia consultada:
ALÉSSIO CV, MEZZOMO CL, KORBES D. Intervenção Fonoaudiológica nos casos de pacientes classe III com indicação à Cirurgia Ortognática. Arquivos em Odontologia, Volume 43, Nº 03, Julho/Setembro de 2007.
PEREIRA JBA, BIANCHINI EMG. Caracterização das funções estomatognáticas e disfunções temporomandibulares pré e pós cirurgia ortognática e reabilitação fonoaudiológica da deformidade dentofacial Classe II esquelética. Rev. CEFAC. 2011 Nov-Dez; 13(6):1086-1094
Imagem: Instituto Igienópolis

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