segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Fonoaudiologia e ortognática: as recidivas

Por Sabrina Leão

A cirurgia ortognática é um método utilizado para a correção de desproporções dentofaciais severas. Tal método objetiva a correção das alterações miofuncionais orais, além da melhora da estética facial.

As alterações miofuncionais orofaciais nesses casos estão relacionadas a alterações no posicionamento das estruturas moles, alterações na mastigação, deglutição, fala e respiração, além de restrição nos movimentos mandibulares.

Na maioria dos casos de cirurgia ortognática, mesmo após o reposicionamento das bases ósseas, não ocorre a modificação muscular esperada. Nesses casos, a terapia miofuncional oral é fundamental para a reeducação funcional, objetivando direcionar a musculatura através da utilização das funções estomatognáticas dentro das novas possibilidades do paciente.

Através da cirurgia, reposicionam-se as bases ósseas, modificando o posicionamento também das estruturas moles, o que resulta em novas respostas adaptativas, em sua maioria, benéficas. Porém, nem sempre essa modificação muscular ocorre da maneira esperada, ocasionando dificuldades  na mastigação e na deglutição.

Segundo o estudo de caso realizado por Sígolo, Campiotto e Sotelo (2009), onde foram comparados os padrões miofuncionais orais de uma paciente no pré e pós-operatório da cirurgia ortognática, através de Videofluoroscopia, ficou evidente que apesar da mudança estrutural, o padrão miofuncional não modificou completamente.

Num outro estudo realizado por Kobayashi et al (1993) que compararam o padrão mastigatório no pré e pós-cirúrgico, também houve a constatação de que mastigação e deglutição não melhoram mesmo com a adequação da oclusão. Foi observado no pós-operatório a continuidade dos padrões de mastigação e deglutição inadequados, o que demonstra a necessidade da reabilitação fonoaudiológica para adequação dos padrões a nova forma.

Na pesquisa realizada por Pereira e Bianchini (2011), um grupo de pacientes teve suas avaliações pré-cirúrgicas comparadas as avaliações pós-tratamentos cirúrgico e fonoaudiológico. A avaliação miofuncional orofacial inicial evidenciou alteração de todas as funções estomatognáticas. Após o final dos tratamentos cirúrgico e fonoaudiológico constata-se uma grande melhora dessas funções. Segundo a pesquisa, o maior ganho é na deglutição, onde há uma melhor organização funcional, comprova-se assim, que o avanço mandibular e a correção da discrepância das bases ósseas permitem uma facilitação da deglutição.

O tratamento do paciente com desproporções maxilomandibulares exige a correção tanto das alterações esqueléticas quanto das funções orais, uma vez que tecidos moles e duros tem uma profunda inter-relação. Logo após a cirurgia, nem sempre as modificações musculares estão satisfatórias, mas após algum tempo, observam-se modificações que vão ocorrendo lentamente. Essas modificações são as adaptações, que muitas vezes podem ser nocivas. Tais adaptações podem ser evitadas através da terapia miofuncional oral, realizada pelo fonoaudiólogo.

Bibliografia consultada:
KOBAYASHI T, HONMA K, NAKAJIMA T, HANADA K. Masticatory function in patients orthognathic surgery. J Oral Maxillofac Surg. 1993; 51 (9): 997-1001.
PEREIRA JBA, BIANCHINI EMG. Caracterização das funções estomatognáticas e disfunções temporomandibulares pré e pós cirurgia ortognática e reabilitação fonoaudiológica da deformidade dentofacial Classe II esquelética. Rev. CEFAC. 2011 Nov-Dez; 13(6):1086-1094
SÍGOLO C, CAMPIOTTO AR, SOTELO MB. Posição habitual de língua e padrão de deglutição em indivíduo com oclusão Classe III, pré e pós-cirurgia ortognática. Rev. CEFAC. 2009. Abr-Jan; 11 (2): 256-260.
Imagem: odontofor

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