terça-feira, 11 de setembro de 2012

A importância do acompanhamento fonoaudiológico do paciente submetido à cirurgia ortognática

 
Por Sabrina Leão

A cirurgia ortognática é um método utilizado para a correção das desproporções maxilomandibulares, tendo como objetivo proporcionar o equilíbrio entre as funções estomatognáticas (sucção, mastigação, deglutição, fala e respiração) e as estruturas anatômicas. O fonoaudiólogo é um profissional com um importante papel na equipe. Sua atuação visa a reorganização neuromuscular para que haja uma execução harmônica das funções estomatognáticas, após a correção cirúrgica. O acompanhamento fonoaudiológico é fundamental para evitar recidivas, que podem surgir em decorrência da não-adaptação do sistema estomatognático. Devido ao grande número de alterações craniofaciais e oromiofuncionais apresentadas pelos portadores de desproporções maxilomandibulares, torna-se evidente a importância de uma equipe multidissiplinar acompanhando esses casos. Essa equipe é composta por ortodontista, cirurgião bucomaxilofacial, fonoaudiólogo, entre outros.
 
O tratamento ortodôntico na fase pré-operatória, tem como finalidade corrigir os maus posicionamentos dentários, para que, após a cirurgia, seja possível conseguir uma boa oclusão dentária e uma mastigação eficiente. No pós-operatório, a ortodontia objetiva a estabilização dos resultados da cirurgia, procurando evitar recidivas. Na equipe, o cirurgião bucomaxilofacial atua no reposicionamento das bases ósseas (maxila e mandíbula).
 
O papel do fonoaudiólogo é de adequar a musculatura e as funções estomatognáticas ao novo padrão oclusal do indivíduo. A participação desse profissional deve começar ainda na fase pré-operatória, diagnosticando as alterações miofuncionais orais que possam comprometer e resultado obtido pelos tratamentos ortodôntico e cirúrgico.
 
A orientação e o tratamento fonoaudiológicos diminuem considerávelmente os riscos de recidivas. A atuação fonoaudiológica oocorre em três fases distintas: pré-operatória; período de bloqueio maxilomandibular ou período de repouso da atividade mastigatória (35 a 60 dias); e após a retirada do bloqueio, ou após o período de repouso da mastigação.
As orientações devem ser iniciadas na fase pré-cirúrgica, entre um e três meses antes da cirurgia, a fim de desenvolver a percepção dos mecanismos e padrões musculares corretos envolvidos no repouso e nas funções orais. Esse trabalho no pré-operatório tem grande relevância no período pós-cirúrgico, no qual os impulsos aferentes sensitivos são enviados ao sistema nervoso central, desenvolvendo uma nova propriocepção.
 
A avaliação fonoaudiológica consiste na análise dos aspectos anatômicos, morfológicos e posturais das estruturas orofaciais, e, principalmente, da funcionalidade dessas mesmas estruturas durante a realização das diferentes atividades oromiofuncionais. O objetivo dessa avaliação pré-cirúrgica é detectar desequilíbrios importantes que possam influenciar negativamente no resultado da cirurgia.

A sensibilidade também precisa ser muito bem avaliada ainda no pré-operatório. A gustação, o olfato e as sensibilidades tátil e térmica podem sofrer alterações transitórias após a cirurgia.

Quando há um espaço intrabucal diminuído, associado a uma tonicidade muscular muito comprometida, inicia-se o trabalho muscular e proprioceptivo ainda no pré-operatório. Nesses casos, inicia-se também a adequação da mastigação e da deglutição, pois, iniciando a reabilitação nesse período maiores serão os benefícios ao paciente no pós-operatório, isso porque as forças anômalas da língua, estando bem trabalhadas, não poderão desestabilizar o bloqueio, oferecendo maior segurança no período de retirada do mesmo.
 
No pós-cirúrgico, usam-se elásticos ortodônticos entre as arcadas nas primeiras semanas, objetivando pequenos ajustes para garantir a estabilidade oclusal. Isso possibilita ao paciente higienizar os dentes e falar de uma forma segura nos primeiros dias após a cirurgia. No entanto, o paciente é orientado a não comer sólidos, a fim de evitar movimentos mastigatórios.
    
Em certos casos, o bloqueio maxilomandibular é utilizado por um período mais longo. Isso pode ocasionar uma adaptação miofuncional oral espontânea. Essa adaptação é consequência da falta de mobilidade que “apaga” o esquema proprioceptivo anterior. Existem casos também em que, após a cirurgia e o correto posicionamento dentário, os tecidos moles não se reestruturam satisfatóriamente, não apresentando boa resposta funcional. Sendo assim, alguns hábitos inadequados podem permanecer, forçando as estruturas operadas e prejudicando os tratamentos ortodôntico e cirúrgico. Por isso, é muito importante a fonoterapia nesses casos, para ajudar o desenvolvimento de um novo padrão funcional adequado à nova forma, antes do surgimento de novos mecanismos adaptativos.
     
As funções estomatognáticas são automáticas, pois ocorrem abaixo do nível de consciência. Por serem automáticas, dependem da propriocepção dos tecidos duros e moles que compõem a cavidade oral e a face. As mudanças bruscas ocasionadas pela cirurgia, podem resultar em uma “confusão funcional”, que desestabiliza a motricidade orofacial do paciente, afirmam Aléssio, Mezzomo e Korbes (2007).
    
Os riscos de uma recidiva no pós-operatório da cirurgia ortognática serão bem reduzidos se as estruturas orofaciais e suas funções estiverem adequadas, mantendo a harmonia da oclusão e não forçando essas estruturas com os antigos padrões adaptativos.
 
Bibliografia consultada:
ALÉSSIO CV, MEZZOMO CL, KORBES D. Intervenção Fonoaudiológica nos casos de pacientes classe III com indicação à Cirurgia Ortognática. Arquivos em Odontologia, Volume 43, Nº 03, Julho/Setembro de 2007
FRAGA JA, VASCONCELOS RJH. Acompanhamento fonoaudiológico pré e pós-operatório de cirurgia ortognática: relato de caso.

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