quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A atuação fonoaudiológica na fase pós-cirurgia ortognática


Por Sabrina Leão
 
A inter-relação entre as estruturas que formam o sistema estomatognático e executam suas funções podem levar a processos compensatórios. Estes processos são regulados por mecanismos de feedback existentes entre as estruturas ósseas e musculares. Portanto, após a cirurgia ortognática estas estruturas faciais podem sofrer mudanças no mecanismo de retroalimentação proprioceptivo, em especial as estruturas periodontais, alterando a atividade muscular.
    
O fonoaudiólogo tem um importante papel junto à equipe de cirurgia ortognática, pois ajuda no direcionamento da reorganização neuromuscular necessária para a execução harmônica das funções estomatognáticas após o procedimento cirúrgico.
    
Após a conclusão do planejamento operatório, as condições da musculatura orofacial podem ser modificadas com o propósito de auxiliar a manutenção da estabilidade pós-cirúrgica, diminuindo os riscos de recidiva ou instalação de quadros de disfunção craniomandibular.
    
A avaliação miofuncional orofacial deve ser realizada nos períodos pré e pós-operatório, com o objetivo de colher dados sobre a história clínica e condições anátomo-funcionais do sistema estomatognático, possibilitando a observação dos mecanismos utilizados pelo paciente e a presença ou não de maus hábitos orais.
    
A análise dos aspectos morfológicos, realizada através do estudo cefalométrico considera as características dento-oclusais, simetria, proporção e tipologia facial, pois tais aspectos são determinantes para as funções orais.
    
A reabilitação fonoaudiológica nos casos de cirurgia ortognática é impressindível pois, a incorreta readaptação muscular neste período compromete o desempenho das funções estomatognáticas assim como a estabilidade dentofacial. Portanto, este paciente deverá submeter-se a reavaliação miofuncional oral de vinte a sessenta dias após a cirurgia.
    
A reavaliação miofuncional oral será igual a avaliação pré-operatória, porém o fonoaudiólogo neste momento leva em consideração a presença de edemas, tempo e tipo de bloqueio intermaxilar (BIM) a que o paciente foi submetido. Tais fatores podem trazer alterações significativas de mobilidade mandibular e da musculatura orofacial, além de alterações da sensibilidade.
    
Após a cirurgia, o paciente apresenta redução da mímica facial e fala imprecisa, decorrente do medo de sentir dor. Há perda da sensibilidade nas regiões da mucosa vestibular e labial, podendo influenciar na postura dos lábios, repouso e execução das funções orais.
    
No período de utilização do BIM o tratamento tem como objetivo desenvolver a exterocepção e propriocepção da região orofacial, sendo que há uma dificuldade no controle muscular, prejudicando a postura labial e o controle de saliva e deglutição de líquidos.
    
Após a retirada do BIM, objetiva-se a promoção do alongamento da musculatura responsável pela mobilidade mandibular e mímica facial; adequação da tonicidade muscular das estruturas envolvidas nas funções orais; introdução de novas texturas alimentares e adequações dos padrões atípicos de mastigação, deglutição e fonoarticulação.
    
Destaca-se a importância da avaliação e acompanhamento vocal destes pacientes, pois, o procedimento cirúrgico pode alterar o posicionamento do osso hióide e, consequentemente, da laringe no pescoço, alterando a vibração das pregas vocais. Dá-se nestes casos, especial atenção aos pacientes que utilizam a voz profissionalmente.
    
O fonoaudiólogo atuante na reabilitação das desproporções maxilomandibulares deve ter profundo conhecimento de anatomia e fisiologia do sistema estomatognático, assim como dos procedimentos cirúrgicos e ortodônticos a que o paciente de ortognática é submetido. As avaliações miofuncional orofacial e vocal devem ser um processo contínuo, para que seja possível o estabelecimento das relações funcionais e terapêuticas adequadas à forma com a qual as estruturas moles deverão se relacionar nas fases pré e pós do tratamento ortodôntico-cirúrgico.

4 comentários:

  1. Ola.

    Gostaria de uma informação.
    Eu preciso fazer a cirurgia ortognatica classe 3 e estou preocupado.
    Sou cantor e canto atualmente em um quarteto gospel masculino fazendo a voz mais aguda, o 1° tenor. Minha preocupação é em saber se terei alterações na voz, principalmente no alcance de voz aguda ou grave.

    É possivel uma orientação nesse sentido?

    Obrigado,
    Geison

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    1. Já lí alguns artigos científicos que relacionam alterações severas de oclusão com problemas vocais. Mas isso quando não tratadas. Nunca lí nada falando sobre possíveis prejuízos a voz após uma cirurgia ortognática. Pelo contrário. Se hoje devido a sua oclusão classe 3 você apresenta dificuldades de mastigação, deglutição e fala, você pode ter certeza de que após a cirurgia essas funções serão executadas de uma forma muito mais fácil e suave. Afirmo para você que seria muito bom um acompanhamento fonoaudiológico no seu pós-cirúrgico, a fim de garantir uma recuperação mais rápida e um resultado funcional mais satinfatório. Obrigada pela visita!

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  2. Ola...já fiz duas ortognaticas, a ultima tem quase 1 ano...nao fiz fono, apenas os exercicios que o cirurgiao passou...mas ainda nao consigo selar os labios sem grande esforço! Gostaria de saber se eu iniciar fono agora, ainda dara algum resultado?

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  3. tenho bastante problema na fala ,falo mt errado ,gostaria de saber como e a cirurgia do piteleco na lingua

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